Estudo revela como a ala masculina lida com o bem-estar físico e mental e de que forma encara ameaças, como doenças cardiovasculares e câncer de próstata.
No Brasil, quase 40% dos homens até 39 anos e 20% daqueles com mais de 40 só vão ao médico quando se sentem mal. Boa parte deles não tem ideia de como anda o coração nem faz exames cardiológicos. E pelo menos um terço enxerga no bem-estar mental o principal desafio para ter mais saúde hoje.
Eis o panorama da pesquisa Um Novo Olhar para a Saúde do Homem, feita pela revista SAÚDE, realizado via internet com 2.405 brasileiros de todas as regiões do país, o levantamento foi discutido no último Fórum SAÚDE, em São Paulo.
A dificuldade de aderir a um estilo de vida equilibrado e a falta da devida atenção em relação à prevenção cardiovascular são alguns dos achados preocupantes. Sobretudo porque quase metade dos homens do estudo está acima do peso e parcela considerável declara ter hipertensão (39%) e colesterol alto (43%). Embora eles estejam cientes dos principais fatores de risco e sintomas de problemas cardíacos, só 39% expressam que procurariam imediatamente o médico diante de sinais como dor no peito.
O preço da consulta e a falta de disponibilidade nos postos de saúde são os principais obstáculos apontados nesse sentido. O drama é que praticamente um quarto da amostra assume substituir com certa frequência uma consulta médica por buscas na internet.
No dia a dia, alguns hábitos realmente deixam a desejar. Quase 80% do público relata exceder-se regularmente em açúcar, sal ou gordura. E só 35% se exercita pelo menos três vezes por semana, como recomenda a Organização Mundial da Saúde. “A falta de percepção sobre a própria saúde, em especial por parte dos homens, decorre do desconhecimento, de achar que engordar e ficar estressado faz parte da rotina”, observou o médico Fernando Costa, diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia e debatedor do fórum.
Se não quebrarmos essa visão, alerta Costa, tudo conspira para o aumento estimado de 250% no número de mortes por doença cardiovascular nos próximos 20 anos.
Segundo Haydée Padilla, médica representante da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e também debatedora no evento, para mudar esse cenário é preciso que as estratégias de prevenção sejam dirigidas a conscientizar melhor a população masculina desde a adolescência. “Só assim teremos idosos funcionais e ativos”, afirmou.
Mas não é só o corpo que demanda cuidado. Um dos diagnósticos mais chocantes da pesquisa é o fardo psicológico. “Estar bem emocionalmente” foi considerado o principal desafio para ter uma rotina saudável.
Em 95% dos participantes experimentaram sentimentos negativos nos últimos tempos. São expressivas as queixas de ansiedade (63% do público) e depressão (23%). “Isso se deve, entre outros motivos, à necessidade cada vez maior de empenho no trabalho, com menos oportunidades. Sem contar a chamada modernidade líquida, em que tudo parece provisório e sem compromisso, e o aumento da sensação de solidão”, analisou a médica e debatedora Carmita Abdo, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria.
“Cuidar da saúde mental ainda é um estigma, sobretudo para o homem. Mas os dados mostram que os mais jovens começam a se preocupar com as emoções”, ponderou.